Urubu pegando sol (Testando)

Por algum motivo que não sei explicar, tive hoje uma injeção de ânimo, algo que me faltava já há algum tempo... Comecei a achar que o mundo é pequeno demais pros meus anseios de vida e que já estava na hora de tentar colocar algo dessa alma inquieta pra fora. Tudo bem, não sou uma exímia escritora, poeta, ou qualquer que seja, mas... talvez possa trabalhar pra isso.
E como o estalo me deu - o que não é incomum - durante uma viagem de ônibus Icoaraci-Cidade Nova, não pude escrever nada novo a tempo, o que me trouxe a um velho texto enfiado nas entranhas das pastas do PC. E é ele que agora se apresenta.

Aceito todo tipo de críticas, mesmo se me deprimir a tal ponto que nunca mais queira escrever nada (rsrs).



Urubu pegando sol

   Sei que urubu não é dos bichos mais apreciados pelo gosto geral, diria até que é mesmo difícil encontrar um único cidadão que confesse gostar de urubus. Como não sou do tipo hipócrita, confesso que também não sou fã do bicho, não gosto nem de pombos, ratos com asas, que se dirá de urubus, que nem bonitos são. Mas o fato é que há coisas na vida diante das quais a gente deve admitir a inferioridade, mesmo não estando totalmente ao nosso gosto... Por isso, não tenho vergonha de falar, não, não simplesmente falar, mas de Contar que uma das cenas que mais me intrigaram e deleitaram foi ver urubus... pegando sol.
   Não vi uma, para dizerem que foi incidente, nem duas, para erro de cálculo ou de ângulo, nem três, para insistência, foi uma sequência persistentemente cotidiana, do tempo em que ainda não me fazia tão mal acordar tão cedo e pegar ônibus tão lotado(!). Talvez isso faça parecer que foi, então, loucura, mas posso afirmar que, ao menos nesse aspecto, o sono não me afetava tanto, e o aperto muito menos, já que eu geralmente ia, privilégio de poucos, sentada.
  Enfim, urubus pegando sol... uma cena naturalmente comovente à apreciação estética(nossa!), algo meio inusitado para um bicho que só se notabiliza em situações de agouro e em certos cartões-postais de cidades lindas, mesmo que meio sem querer. Se o cenário for propício, então, é um deleite aos olhos, ou ao pensamento: um terreno grande, uma casa bem ao centro, água empoçada por todos os lados, sacos de lixo nadando nas lagoinhas, e, os astros, urubus em fila indiana no telhado em V(ou seria em A?), organizadíssimos, matematicamente, em ordem crescente a partir do sol nascendo ainda ao leste, com suas longas asas negras e sujas abertas a esquentar – belíssima estética do feio! 
    Em suma, uma cena de dar inveja, afinal, não são todos que têm a liberdade de ter o que querem, quando querem, à vontade, e sem precisar fazer o menor esforço, pois há outros que trazem ao cenário ideal o suprimento especial - a não ser que alguém já tenha visto por aí, coisa que eu com certeza não, urubu carregando saco de lixo como a cegonha carrega o bebê; e a negação, aliás, é um belo consolo, para quem gosta.
    E para não dizerem que faltou uma moral, basta falar que o urubu está bem servido de seu lugar ao sol, bem mais do que quem inventou que a gente precisa de um.


Comentários

  1. Adorei Lali, simples, sensível e inteligente. Como eu sei que assim és ^^

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