Um girassol


Quando cheguei em casa, depois de muitos dias fora, ganhei um girassol. Mas não vi.
Olhei pra grama seca e passei o olho nas outras plantas que deixei nos vasos, já esperando o momento trágico. Do manjericão, da cebolinha, da violeta, dos trevinhos, nem sombra. Todos secos, mortos, sem salvação do tempo extremamente seco e sem cuidados. Minha plantinha roxa, mais à frente, com um dos talos completamente pelado, o outro com míseras quatro folhas. Só restaram as suculentas, companheiras de muitos anos, já acostumadas a algumas intempéries. E os ciprestes, esses resilientes que são os verdadeiros donos da casa.
A verdade é que eu não sou, nem de longe, a louca das plantas. Tento, tento muito, mas quando não mato as bichinhas pela falta de água, é pelo excesso; quando não é por luz demais, é por de menos; quando não sou eu, são os gatos. E assim sigo tentando, entre mortos e feridos. Muito mais mortos, é verdade. Mas dessa vez eu já estava quase conseguindo de verdade... Ver o pouco ou quase nada que restou delas me fez ficar triste, e pensar no trabalho a recomeçar, como em tantas outras questões a partir dali, quando eu voltava pra essa casa, que é uma nova casa... E de tanto lamentar os seus vasinhos cheios só de terra e restos mortais no canto do muro, sem coragem pra ir lá, continuei sem perceber o presente que ganhara.
Foi depois de uns dias que ouvi: “Nasceu um girassol na frente da casa”. Eu sem acreditar, “onde?”. “Lá na beira da calçada. Tá grande, só falta abrir a flor”. Entendi que aquele girassol era um desses presentes que a gente ganha sem esperar, e às vezes até demora pra notar. Não vou mexer com ele, não quero correr o risco de matá-lo antes de florescer. Ele é a minha metáfora do agora.

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