Entorpecer

Na minha frente, bloqueando por um breve instante os fortes raios de sol que atingem meu rosto, passa mais um ônibus. Passa, mas é devagar, como se quisesse me mostrar algo. Inesperadamente, o que ele me mostra é um olhar vindo de dentro, e aquele sorriso largo, sincero, quase infantil...
Infantil porque puro demais para que eu pudesse suportar. Quando encontramos nossos olhares, encontramos também nossos sorrisos, e isso eu não podia imaginar que aconteceria. Nem naquela tarde de sol, nem nunca mais daquele jeito tão brando.
Ele finalmente passou, mas o sorriso insistiu em permanecer bobo no meu rosto. Para o nada, para o sol incômodo novamente.
Incômodo como o tudo mais que me retornava.
Eu tirei da bolsa o celular, tontamente enternecida e enraivecida pelo amor redespertado, e olhei a hora porque ele estava atrasado para o nosso encontro de motel. Ele apenas chegou em casa com a doce lembrança dos tempos que não voltam e ligou para ela, para alimentar seu novo amor.

Comentários

  1. "mas o sorriso insistiu em permanecer bobo no meu rosto. Para o nada" Ow!!! Que lindo, eu sei oq é isso!!!!
    L.L vc é uma boa cronista, devias escrever mais vezes! =D

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