Crônicas de quase amor
Se
a cada vez que eu me apaixono eu escrevesse uma crônica, já teria pelo menos um
livro pronto para a publicação. Ou dois.
Ou talvez não tivesse mesmo nenhum, só alguns textos magros e um ou dois
bem bonitos. O problema é que eu não sei quantas vezes de fato me apaixonei,
mas me encantar, isso faço sempre, sempre... Então digamos que eu teria um ou
dois livros de crônicas sobre o nobre sentimento do encantamento.
É
certo que provavelmente seria um livro monótono, onde não haveria muitas
pieguices, mas mesmo assim haveria um lenga lenga repetitivo. Haveria muitas
alusões a muitos trechos de músicas e poemas, sempre os mesmo trechos de
músicas e poemas, porque embora fossem dedicados a pessoas muito diferentes (e
põe diferença nisso), e embora eu mesma tenha mudado muito, o meu repertório
lírico amoroso não muda tanto assim. Se pareceria muito mais com aquilo que eu
achava que sentia do que com o que de fato sentia. Seria, enfim, um livro sobre
o que eu achava que era paixão, ou amor, e no final seria sobre como
encantar-se e, claro, desencantar-se quase com a mesma rapidez. E encantar-se
de novo.
Então
haveria muitas noites lindas e inesquecíveis, que no fim se pareceriam um pouco
demais umas com as outras. Não haveria muitas juras de amor eterno, mas muitas
declarações de como o amor assusta. Seria um livro de crônicas que pareceria
mais um romance sobre como não se apaixonar, mas se deixar levar consecutivamente
pelos vários amores da vida. E por isso mesmo não seria um romance, mas várias
crônicas, embora quase que sempre a mesma crônica. Haveria um medo
latente de que o encantamento virasse paixão e depois amor. E seria assim que acabariam todas as crônicas.
E
nunca seria permitido começar o livro sobre o amor, porque a verdade é que é
muito mais difícil escrever esse livro, sobre apaixonar-se, se a
gente nunca deixa o amor ser construído. Então, se eu finalmente deixar esse
amor aparecer, aí poderei escrever não um livro, mas uma boa crônica sobre
estar apaixonado, ou quem sabe um romance. Ou talvez não escreva mesmo nada,
porque vou estar muito ocupada vivendo.
Comentários
Postar um comentário