Espera

Sexta à noite, cinema fora do grande circuito. Lugar perfeito pra observar pessoas com tranquilidade.
Meia hora antes do filme, homens de várias idades sentados em bancos espalhados pelo salão. Sozinhos, escutam música, leem. Esperam. Apenas uma mulher, jovem, cerca de 20 anos, com o livro na mão, olha de 3 em 3 minutos para a escada. Parece também ser uma esperante.
Passam 10 minutos, chegam mais dois homens. O gordinho parece que vai na direção da moça. Ela olha, abaixa de novo a cabeça. Ele passa para o banco de trás.
Os esperantes não se olham. Os que aparentemente não fazem nada olham para todos os lados, mas não parecem ver, apenas pensam. Os que leem ou ouvem música, e os que leem ouvindo música (os hiperativos!) parecem concentrados demais no seu mundo à parte. Apenas a moça, na sua inquietude de esperar, às vezes parece se deter a observar algum desses tantos homens...
É estranho ver tantas pessoas, cada um no seu canto, esperando seus companheiros. Cada um preso a si, não percebem que todos os que estão ao redor têm pelo menos um gosto em comum consigo. Para que esperar? Por que não entram e se sentam e conversam uns com os outros? Há companhia suficiente. Além do mais, quem for chegando pode se juntar ao grupo. E se não gostar porque o companheiro não “lhe esperou”, vale como um puxãozinho de orelha. Durante o filme, comentem uma cena e outra e, após o filme, vão naquele barzinho da esquina tomar um chopp. A moça – continuaria sendo a única do grupo? – não parece se importar com as pequenas e absurdas barreiras sociais de gênero.
Mas eles continuam lá, tão sentados quanto. Dez minutos antes de começar o filme sobem mais mulheres, muitas bem arrumadas, começam a se dirigir aos homens sentados. Estranho, parece baile dos anos 50. Não mais. Subiu um rapazinho e, com um sorriso meigo, se dirigiu a um dos rapazes também. Todos se beijam e vão pra fila dos ingressos.
O salão vai ficando vazio. Faltam 5 minutos para o filme. A moça, a única esperante do sexo feminino, há quase meia hora com o livro na mão e não virou mais do que 2 páginas. Outro rapaz, 18 anos mais ou menos, cabelos emaranhados, agora que me dei conta, também está ali desde quando cheguei, bate com o pé no chão. Deve ser namoro novo. Está no banco ao lado da moça, mas parece desesperado demais para notá-la. Ela, porém, o vê. Porque não entram juntos? Para que esperar o outro que talvez nem venha? Não devem perder o filme, dizem que é ótimo. Mas o que há que companheiro não atende o celular? Fecha o livro, guarda na bolsa, cruza as pernas e os braços.

Chegam casais de braços dados, dois grupos de amigos. Compram ingresso, entram no cinema. Está na hora. Vou entrar também. Mas antes, olho para trás. Eis que vem a moça com o atrasado namorado. Não parece aborrecida, entram de mãos dadas. Mais atrás, além do vidro, está o rapazinho nervoso, sentado. Não vai conseguir entrar a tempo. Mas deve continuar esperando a amada, é melhor assim. Na completa solidão agora, já que hoje não há mais nem chance de fazer novas amizades.

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