De rios e correntezas emocionais
Mudanças
me encantam. Me afligem também, bastante, mas me encantam sobretudo. Sair de um
canto pra outro, mudar de casa, de hábitos, de roda de convivência sem que, porém,
a gente mude quem a gente é, sem que perca a casa natal, os amigos profundos.
Nos
últimos anos, eu virei uma especialista em mudanças, daquelas mais radicais:
primeiro mudei de estado, saindo da casa da minha mãe pela primeira vez;
depois, mudei da vida de solteira pra vida de “amigada”, pra usar o vocabulário
da minha avó; depois, mudei da vida urbana pra vida interiorana; agora, mudei
de estado de novo e, junto, da vida de estudante pra vida profissional de fato.
Fazendo as contas, dá uma mudança por ano. Mas, “eu apenas queria que você(s)
soubesse(m)”, que ando muito feliz com tanta mudança, porque “eu estou
exatamente onde eu queria estar”. E que, pra minha maior alegria, voltei pra
perto do rio.
A
verdade é que, em todo lugar pra onde vou, sempre busco olhar as diferenças, me
adaptar, mas também procuro qualquer coisa semelhante que me faça sentir
aquelas minhas raízes, tão queridas e tão aéreas.
Aqui
onde me encontro hoje, essa marca é o rio. Um rio de que cresci ouvindo em uma
música, e que, até por isso, duvidava que existisse: “Toca Tocantins, tuas
águas para o mar. Os meios não são os fins, por que vão te matar?”. Eu acho que
acreditava que o rio tinha morrido de fato e nunca pensei que um dia estaria do
ladinho dele, trabalhando, comendo peixe, caminhando, vendo o pôr-do-sol. Mas,
a música não mentiu, o rio, depois da barragem, morreu um pouco mesmo. Não tem
correnteza. Fica lá paradinho, esperando. É, com certeza, bem diferente daquele
rio gigante imenso que não tem a outra margem, chamado Pará, da baía onde gosto
de tomar sorvete e beber com os amigos a partir do fim da tarde, lá na minha
terra. Mas, ainda assim, é um rio grande, não um “corguinho” que a gente
atravessa à pé. Lá na beira dele, vejo as canoas passando, de lá de dentro dele
vem o Tucunaré pra alimentar o povo. E dá um prazer imenso em dizer “estou na beira
do Tocantins, vendo o pôr-do-sol”, esse mesmo rio que vai desaguar lá em cima, na minha terra, num lugar conhecido como região do baixo Tocantins.
Agora
estou no meio do percurso dele, e no meio caminho entre a casa de onde sai há
quatro anos e aquela onde aprendi a olhar mais profundamente pra mim mesma. Andei
dois mil quilômetros e voltei mais quase mil, provando que a
vida não é retilínea, e que, se for preciso, eu volto mais mil, ou saio girando
por aí.
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