Eu não quero mais ver isso
Não quero, não consigo. Parem de me mandar essa foto. Ver e
rever esse tipo de imagem me faz mal, me dói o estômago, me faz chorar e
não crer em qualquer saída absoluta pra esse absurdo todo. É cruel, é desumano.
Mas não é só por isso que não quero ver. É porque não quero
me acostumar. Não quero que esse menininho seja só mais uma imagem armazenada
no meu HD com o nome de “Injustiça”, “Crueldade”, “Morte”. Eu sei, é preciso
ver, porque é preciso saber, lembrar. Só que essa reprodução automática no meu
mural virtual não vai ajudar nisso. Vai ser só mais uma imagem de que daqui a
pouco todo mundo vai enjoar, à procura da próxima tragédia da humanidade...
Ver choca, porque nos traz à uma realidade que até gostaríamos
de ignorar – pra nos fechar nas nossas bolhas de “felicidade”. Mas rever,
incessantemente, só acostuma. E eu não quero me pegar falando a eterna frase
desumana: “normal”.
Acostumar-se a ver imagens da morte ajuda a mortificar a
dor. É extremamente necessária no luto de pessoas queridas. Mas nada nada pra nos fazer pensar em como
mudar as coisas, ou pelo menos nos religar ao sofrimento diário do mundo. Repetir
desliga.
E eu acho que a dor que sinto diante dessa imagem do corpinho
afogado é a forma de me religar à essa dor maior, me lembrar de que a vida não
é só essa imediatez em que vivo. Essa imagem é forte, é importante demais pra
virar pop desse jeito. Ela me religa, mas não preciso mais vê-la: ela já está
gravada pra sempre. E agora, que fazer com esse sentimento? É preciso saber
fazer alguma coisa com ele. Agora o que resta é tentar transformar essa imagem
e essa dor em algo que faça pensar, raciocinar, mudar. Eu transformo em
palavras, por acreditar que elas nos religam à lembrança dessa imagem, mas também a tantas outras
(porque de injustiça e sofrimento esse mundo vive cheio), sem precisar sensacionalizar, transformar em produto de venda.
É um jeito de eternizar esse momento de dor, não de me acostumar com ela. Precisamos
saber que, enquanto não mudarmos, é preciso, sim, sofrer muito pela dor dos
outros.
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