Tenho pensado na minha mãe

Vez ou outra solto uma frase seguida do clássico “como diz a minha mãe”. Talvez as pessoas imaginem uma mãe carinhosa, engraçadinha, uma mãe clássica. Mas minha mãe nunca foi clássica. Mas que mãe é?

“Tá com calor? Mete a bunda no tambor”

“Tá com frio? Mete a bunda no rio”

“Menina, vai escovar esses dentões”

“Não fica andando com o pezão no chão. Vai ficar grande igual uma prancha”

“Já arrumou essa gaveta? Tá igual a tua cara”

Sim, ela dizia essas coisas quando reclamávamos de calor, de frio. Eu tinha mesmo uns dentes mais largos que a boca (usei aparelho) e os pés grandes (meu pé chegou no número 36 quando eu tinha apenas 8 anos, o que significa que o resto que cresci foi em torno desse pé). E, realmente, eu não sabia arrumar minha gaveta – mas nunca entendi o que ali parecia com a minha cara. Alguém dirá que minha mãe praticava bullying comigo e, se não fiquei traumatizada, foi porque isso me tornou mais forte. Não.

Na época eu não gostava. Acho que queria que minha mãe fosse igual às do comercial de margarina (mas o engraçado é que nunca gostei de melosidades). Mas ela dizia isso, depois ria – não uma gargalhada, mas um rizinho meio cínico. E eu continuava me sentindo meio mal, até que um dia entendi.


Hoje, repito tudo isso, inclusive pra mim mesma, rindo. “Vou escovar os dentões”, “meu pé parece uma prancha”, “essa porcaria tá igual a minha cara”. Não me tornei mais forte por isso (outras coisas na vida me tornaram mais forte, mas que não precisavam acontecer). O que isso me ensinou, no fim das contas, pelo jeito que minha mãe falava, até mesmo quando tava braba, foi a ver as coisas de uma maneira mais divertida. E eu não aceito nada menos que isso na vida.

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