Belém, de novo. Só tu.

 

E quando tudo parecia me trazer de volta para ti, vem a vida, com sua caixinha de surpresas, e me deixa perdida no meio do caminho. Tomo meu chope à beira da enorme baía, sob a chuva das 15h, e choro. E nada poderia ser mais clichê. Nem mais verdadeiro que isso. Só Belém acolhe minhas lágrimas assim, já acolheu muitas. A playlist do bar é horrível, e por isso mesmo a dor é mais funda. Fui embora porque já tinha chorado em todos os cantos dessa cidade, em todos os ônibus, em todas as paradas. Nem todas, claro, mas pode ser que agora consiga essa melancólica façanha. Passo a me perguntar se minha cidade me expulsa, se me diz “não”, “ainda não”, ou apenas “isso é pra deixares de ser afobada, maninha”. Quando terei minha recompensa? Resolvo andar um pouco numa das ruas preferidas e que me lembra outros tempos, por onde só andei mesmo a pé ou de ônibus, nunca dirigindo, o que é um alívio para a memória e para esse ataque de ansiedade que já começa a se ensaiar no peito. Ando, respiro, a chuva cai fina, a máscara não me deixa sentir o seu cheiro e tenho raiva. Respiro. Entro na farmácia onde estão mais drogas que prometem resolver meus problemas – espero, mas nem todos. Saio, olho as mangueiras, as casas antigas, o calçamento quebrado, os homens que fumam com a máscara no queixo, espero para atravessar a rua enquanto os carros buzinam só para descarregar a raiva. Tomo sorvete naquela esquina afetiva, mas onde não tenho tristes lembranças. Penso e resolvo que, pelo horário, é seguro pegar um ônibus, não deve lotar logo. E assim descubro que esperar o transporte por 40 minutos – e eu não esperava que fosse menos que isso – debaixo da árvore, para não aglomerar debaixo da parada, tranquiliza as palpitações. Mas a certa altura, choro. Com a cabeça encostada na janela, como há 10 anos. Ali, eu queria ir embora, e fui. Agora, eu queria voltar, mas os caminhos para a minha cidade me enganam, brincam de semelhanças, me fazem amar só para depois sofrer um pouco mais.

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