Libélula
A
libélula vem e pousa, mas não pousa, só para pra respirar. Bate as
transparentes e nervuradas asas nervosamente, e olha com seus imensos mas nada
admirantes olhos. Não se aproxima, quer luz, vai para a luz, e olha. Não me
quer, e eu gosto disso. Libélula. O nome é saboroso, lilili, bé, lu, lala,
lânguido, libidinoso, liso, de asas que batem lelelê. Por que pra um bichinho
tão esquisito? Fecho os olhos e os lelês criam ondas, imagino beleza. Abro os
olhos, o bicho olha e não há lês, não há ondas, há asas nervosas, há zês que
zumbem no ouvido... pesadelos de infância. Libélula, se crie da palavra ou não me olhe,
não voe, tire as asas e seja só um bicho terrestre, que não precisa de lelês ou
desses horrorosos zezês. Não me assuste, não me lembre que coisas e palavras
não se correspondem naturalmente. Não me faça olhar no espelho.
Comentários
Postar um comentário