Lunar de outono
No
céu negro, passam nuvens de chuva carregadas. Há estrelas, pequenos pontos de
contraste. Há a lua, cheia e branca, grande paradoxo em uma noite de outono.
Um
gato negro aparece, desfila pelo estreito meio-fio, senta a balançar o inquieto
rabo. Os grandes olhos miram a lua, parecem nele se espelhar em negativo: luz
negra no céu claro. Ele não mia, não é um costume felino se dar a inúteis
palavras diante do inexprimível, resigna-se, curva-se, que mais fazer?
Não
há pássaros na noite. Se houvessem, também não cantariam - a noite é o espaço
do silêncio. Apenas se deixariam voar em baile, emprestando à luz um desnecessário,
ainda que gracioso, movimento.
São
as nuvens que teimam em passar diante da claridade da lua. Por algum momento, também
desejam contemplação, mas depois que passam ficam estáticas, sabem que seu
lugar é no diurno azul, onde o branco é só seu. O brilho lunar atravessa a
densidade nebulosa.
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