Crônica do tesão

    Se tem uma coisa que me dá tesão é sorriso. Um belo e sincero sorriso, seguido ou não de uma sonora gargalhada. Outra coisa é cheiro, um cheiro suave de quem acabou de sair do banho. E olhar? É tesão na certa! Um olhar profundo, que parece que nos descobre os segredos só de olhar pra gente; ou que nos interroga com a maior inocência. Outra, ainda, é humor. Nossa, uma pessoa bem humorada dá um puta tesão! Uma piada na hora certa, ou na hora inusitada também, pode ser, mas uma piada inteligente. Tenho tesão em gente inteligente. Se for inteligente e criativa então... já pareço até extasiada de tanto tesão. Criatividade é coisa de gente sensível também, e gente sensível é um escancarar de tesão, gente que se entrega pra vida, que não tem medo de viver. E se for gente que declama poesia, é capaz de me fazer ter um orgasmo.

    Desconfio de que os moralistas de plantão até que têm razão quando falam que hoje o sexo é exposto demais e de tão exposto perde o mistério, falta tesão. Razão em parte. Acho que o problema da exposição excessiva do sexo não é bem isso de perder o mistério, mas de que as pessoas se viciaram a um tesão que vem sempre de fora, que elas não se dão mais o trabalho de descobrir. É peito, coxa, bunda, músculo pra todo lado! É claro que isso dá tesão. Mas é um tesão tão animal, que a gente esquece que o tesão está também no que não é puramente sexual, e, mais ainda, na construção da relação.  Não que o tesão animal não tenha valor, claro que tem, oras, o que é, afinal, a doce arte da masturbação? Mas isso pra mim é tão limitador... Quer dizer que eu não posso sentir tesão em alguém que não mostra nada disso? Ou, pior, que não é “bonita”? Nem o tesão animal funciona desse jeito. Pra mim, o pior dessa cultura de superexposição é porque teimam em regular o meu tesão e como eu devo usá-lo. Oras, vão todos se masturbar! O meu tesão é meu, e nem eu mando nele!


    Me deixem desejar aquele cara dos belos olhos tristes e do sorriso inocente. E aquela moça da voz rouca e cheiro sereno. E aquele outro tão certo das suas opiniões... Essa gente de verdade, com que cruzo todos os dias, e que só por algumas circunstâncias do destino nunca saberão do meu tesão. 

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