Corre que lá vem Ela

Céu cinzento de janeiro, em Formosa-GO (Larissa Leal)

Estamos em janeiro, mês da chuva em todo país. Aliás, acho que a única vez no ano em que é possível afirmar que todo país está tal e tal. O Brasil é um país tão grande, mas tão grande, que a única coisa que consegue abranger tudo é mesmo essas chamadas chuvas de verão. Só que em cada lugar a relação com ela é diferente.
Aqui no Centro-oeste, essa é a época que a maioria das pessoas gosta menos, menos até do que da seca. Nunca vou entender isso. O clima melhora, não falta água, dá pra respirar sem ferir as mucosas, não tem mosca entrando pelas brechas da janela, mas a galera reclama que não dá pra sair. No Sudeste, sempre é uma época de muito medo, por causa dos alagamentos e da terra deslizando dos morros, aí dá pra entender. No Nordeste, a chuva suja as águas verdes do mar, estraga aquele dia perfeito de sol, mas, afinal, como é verão, amanhã não mais. No Sul, a chuva sempre vem acompanhada de um friozinho que seja, não dá pra usar agasalho como em julho, mas pelo menos refresca os terríveis 25 graus do verão deles...
Talvez só no Norte a gente tenha uma relação mais íntima com a chuva, afinal, ali ela é sagrada o ano inteiro. Em Belém, todo mundo sabe que as nossas estações do ano são definidas pura e simplesmente por ela: a estação que chove todo dia e a estação que chove o dia todo – a piadinha é batida, mas eu gosto de repetir.  Ela chega toda tarde, e é assim mesmo que a gente diz: “Ela”. “Corre que lá vem Ela!”, “Hoje é dia Dela”, “Mas essa é a época Dela mesmo”. Uma vez caminhava na praia com o marido, que não é de Belém, e ele, vendo a chuva se aproximar, resolveu se apressar pra chegar na barraca. No meio do caminho, claro, ela caiu. Eu, de boa, assim como todo o resto da praia, e o homem besta perguntando “Mas ninguém vai sair da areia? Nem da água?”, e eu, plena, “Não, essa nuvem já já passa”. E seguimos, caminhando na areia sob a chuva.
O belenense é tão acostumado com “ela” que se passa 3 dias sem chover, ele já acha que é o fim do mundo – mas não é pra menos, o calor não dá trégua. Minha mãe me liga, eu aqui em Goiás, naquela secura horrível de agosto e setembro, e diz “Aqui tá um calor horrível, tem três dias que não chove”, e eu, “Pois aqui tem três meses, eu não aguento mais!”. Agora em janeiro, a conversa é diferente: “Ah, aqui tem três dias que tá chovendo sem parar”, “Aqui também!”. Isso faz parecer até que a distância é menor, e dá uma alegria no coração ver esse céu tão cinza.

Comentários

Postagens mais visitadas